O caso revelado no último domingo (19/10) pelo portal UOL, que mostra possíveis irregularidades no uso de recursos públicos na restauração do Jockey Club de São Paulo, coloca o ex-governador Marconi Perillo (PSDB) no centro de mais um escândalo. Segundo a reportagem, parte dos R$ 83,6 milhões em incentivos fiscais federais e municipais teria sido desviada para empresas e pessoas ligadas ao tucano em Goiás. O episódio reforça os motivos que levaram o ex-governador a deixar Goiás em 2019 após uma derrota eleitoral e o desgaste político que o levou a uma mudança repentina para São Paulo.
A relação de Perillo com o Jockey Club de São Paulo começou logo após deixar Goiás, em 2019, quando se tornou sócio do clube. Em 2022, passou a integrar o conselho administrativo da instituição, que enfrenta dívidas milionárias e processo de recuperação judicial. Em 2018, o ex-governador obteve apenas 416.613 votos (7,55%) e ficou em quinto lugar na disputa para o Senado, encerrando um ciclo de poder que durou 20 anos. Dez dias antes do 1º turno, Marconi foi preso pela Polícia Federal no âmbito da Operação Cash Delivery, que investigava o pagamento de propinas em campanhas eleitorais em que ele participou. O episódio marcou o início de sua derrocada política.
Quatro anos depois, mesmo orientado por aliados a disputar uma vaga na Câmara dos Deputados, Perillo insistiu em concorrer novamente ao Senado. Em 2022, perdeu novamente, obtendo apenas 19,8% dos votos válidos, confirmando seu declínio eleitoral. Após as derrotas, Perillo mudou-se para São Paulo e abriu, ao lado da esposa Valéria Perillo, a MV Consultoria, empresa contratada pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). A intermediação do contrato partiu do então governador paulista João Doria, amigo pessoal de Marconi e do presidente da CSN, Benjamin Steinbruch.
O caso do Jockey Club, portanto, expõe um cenário que vai além da crise institucional da entidade. Ele escancara a tentativa de Marconi de reconstruir sua trajetória política e financeira fora de Goiás, após o isolamento e a perda de capital eleitoral no Estado que governou por quatro mandatos. De 2018 para cá, o ex-governador reapareceu em solo goiano apenas de forma pontual em eventos locais e entrevistas esporádicas. Mesmo assim, tenta se recolocar no debate político ao se apresentar como pré-candidato ao governo. No entanto, o envolvimento de seu nome em novas suspeitas de desvio de recursos públicos pode agravar a rejeição já elevada entre o eleitorado.
Caso Jockey Clube
De acordo com os documentos obtidos pelo UOL, as prestações de contas apresentadas pelo Jockey à Prefeitura de São Paulo e ao Ministério da Cultura incluem notas fiscais duplicadas, despesas pessoais — como jantares, hospedagens e compras em farmácias — e contratos com empresas de fachada. Auditores identificaram pagamentos sem comprovação de execução de serviços, alguns deles direcionados a empresas goianas com vínculos familiares ou políticos com Perillo.
Entre as empresas citadas estão a Elysium, produtora cultural indicada por Perillo para coordenar o projeto de restauro e que, em 2014, foi transformada em Organização Social de Cultura (OSC) por decreto do próprio ex-governador, quando ainda chefiava o Estado de Goiás. A Elysium, que hoje atua como procuradora do Jockey, teve quatro projetos aprovados pela Lei Rouanet em 2025. Também aparecem nas investigações a Biapó Construtora, que tem familiares do tucano entre os sócios, e a Vidal Construtora, registrada em endereços residenciais em São Paulo e Goiânia, responsável por contratos que somam R$ 11,2 milhões sem comprovação de execução.
O Ministério da Cultura e a Controladoria-Geral do Município de São Paulo investigam o caso. Segundo os órgãos, há evidências de que as mesmas notas fiscais foram apresentadas em duas prestações de contas distintas — uma pela Lei Rouanet e outra pelos incentivos municipais —, o que é proibido.
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